Audiência Pública comemora Luta Antimanicomial com debate sobre políticas de inclusão e desafios da saúde mental em Sete Lagoas

Na noite da última quarta-feira, 14 de maio, a Câmara Municipal de Sete Lagoas recepcionou uma audiência pública com um tema de extrema relevância: a Luta Antimanicomial. Proposto pelo vereador Caio Valace, o encontro reuniu profissionais da saúde, assistência social, representantes de entidades, usuários do sistema de saúde mental e familiares, com o objetivo de discutir os desafios enfrentados na efetivação das políticas públicas voltadas à inclusão social de pessoas em sofrimento mental.

A audiência, por meio de seus palestrantes, revelou dados sobre a realidade da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) e ressaltou a importância de consolidar uma política intersetorial que una áreas como saúde, assistência social, educação e outras em torno do mesmo objetivo: garantir dignidade, cuidado e cidadania a quem enfrenta transtornos mentais.

“A luta antimanicomial não é uma bandeira de uma categoria profissional. Ela é uma luta humanitária. É sobre enxergar o outro com dignidade, romper com práticas de exclusão e construir pontes de cuidado”, afirmou o vereador. Caio emocionou o público ao relembrar a trajetória de seu irmão, o psicólogo Marcus Vinicius, mais conhecido como Marcus Matraga, referência nacional na luta pelos direitos das pessoas com sofrimento mental. A homenagem, feita na forma de uma palestra, relembrou a militância e a trajetória do psicólogo. Em fevereiro de 2026, completam-se dez anos do assassinado de Matraga, ainda sem esclarecimento.

O legado de Marcus também foi destacado por referências nacionais e mineiras na luta antimanicomial, como a psicóloga Ana Bock, ex-presidente do Conselho Federal de Psicologia, e pelos psicólogos Chico Viana e Martha Elizabeth. “A presença de Marcus no Brasil na luta antimanicomial foi fundamental, foi essencial, porque ele imprimiu nessa luta um caráter humanizador, um caráter solidário e um caráter cultural”, afirmou Bock.

Dados e desafios apresentados

A audiência ofereceu um espaço importante para que a Prefeitura apresentasse os principais avanços e desafios da área. A superintendente da Rede Ambulatorial Especializada e Referência Técnica em Saúde Mental da Secretaria de Saúde da Prefeitura de Sete Lagoas, Isabella Oliveira, apresentou um panorama detalhado da estrutura da saúde mental no município, destacando que Sete Lagoas conta com três CAPS (Infantojuvenil, Adulto e Álcool e Drogas); três psiquiatras no CAPS Adulto, dois no Infantojuvenil e dois no CAPS AD; 64 Estratégias de Saúde da Família (ESFs) com apoio de 9 equipes do NASF; e equipe multiprofissional em psiquiatria e psicologia também no Hospital Municipal.

A secretária municipal de Assistência Social, Cidinha Canabrava, complementou os dados ao apresentar os equipamentos disponíveis no município, como CRAS, CREAS, Centro POP, Casa de Passagem e outros equipamentos. Ela ressaltou que um dos maiores gargalos ainda é a capacitação das equipes de referência, além da necessidade urgente de efetivar o trabalho em rede com outras áreas, como a saúde e a educação.

Participações e encaminhamentos

A audiência contou também com falas de usuários do CAPS e de profissionais da saúde que atuam diretamente na atenção psicossocial. Os depoimentos evidenciaram como a escuta qualificada, o acolhimento e o tratamento humanizado são capazes de transformar trajetórias antes marcadas pelo sofrimento e pela exclusão. Para o secretário de Saúde de Sete Lagoas, Jean Barrado, os desafios são grandes e diversos. “Pretendemos dar alguns passos. Sete Lagoas tem um avanço bom, mas temos que avançar ainda mais”, ressaltou.

Ao final, ficou claro o compromisso dos participantes em fortalecer a luta por políticas públicas de saúde mental que estejam à altura das necessidades da população. A audiência serviu como espaço de escuta e proposição, além de reforçar o papel do Poder Legislativo como mediador entre as demandas da sociedade e a ação do poder público. Entre outros pontos, a audiência pública teve como encaminhamentos a discussão sobre a regulamentação do CESMT e a ampliação do atendimento dentro da Rede de Atenção Psicossocial.

Assista à audiência na íntegra abaixo: